Sexta-feira, 25 de Abril de 2008
Andamos todos aos pacotes
Esta história do Armazém 6 remonta há alguns meses. Teve sempre uma continuidade até hoje, onde culminou da melhor maneira.
No Armazém 6, naquela minúscula copa onde circulam os tupperwares de todos, existe uma máquina de café. Todos se podem servir sem custo.
Ao lado dessa máquina existem obviamente os acessórios necessários para quem quer beber o seu cafézinho: Um recipiente com pauzinhos de plástico, copos de plástico pequenos e um cubo de plástico transparente onde estão depositados pacotes de açúcar individuais.
Foi neste cubo que tudo começou...
Há algum tempo descobri, escondida atrás da máquina, uma sinistra embalagem de ColaCao , sem rótulo e já um pouco gasta pela erosão do tempo.
Estava meio cheia (ou meio vazia) de uma substância sólida, granulada e branca.
Aquilo despertou a minha curiosidade e não resisti a perguntar a uma das “armazenadas” se alguma vez tinha reparado na embalagem.
- Pá, atão não sabes?! – surpreendeu-se.
- Eu, não...
- A Cabeça de Fósforo quando bebe café só mete meio pacote de açúcar, a outra metade mete ali dentro para um dia levar a embalagem de ColaCao cheia e fazer um bolo em casa.
- Ah, que giro... – respondi.
A minha cabeça transformou-se num turbilhão. Mas que ideia! A Cabeça de Fósforo bebe, pelo menos, uns quatro cafés por dia.
Não seria mais lógico, guardar as metades e ao fim do dia ter gasto dois pacotes de açúcar?
Mas enfim...
Ao fim de uns dias tive a ideia e a oportunidade....
Doentiamente, sempre que me encontrava livre de perigo, abria o armário da copa, agarrava numa embalagem de sal fino Vatel, que estava lá perdida há uns tempos, e “Zuca!”:
Metia boas doses de sal dentro da lata de ColaCao da Cabeça de Fósforo.
Bem sei. Não devia fazê-lo.
Mas era sempre mais forte que eu.
Isto durou uns quatro meses.À hora de almoço, quando o Armazém 6 se esvaziava, lá ia eu determinada na minha missão.
Se me atrasava às 18h na saída lembrava-me:
“Mais um pouco, vá lá...”, que nem uma criminosa “E ZUCA!!!”
E assim correu o tempo...
A semana passada, o Armazém 6 andava um pouco desanimado..
Não havia café há três dias...
No primeiro dia algumas iam ao Torto, mas também esse café se acabou rapidamente.
Eram verdadeiros tempos de crise.
Na quinta-feira, Sapo Atropelado chegou triunfante de manhã:
- Trouxe café, este café era do Isidro! Sabem, a máquina dela avariou e blá blá blá...
Desta vez todos ouvimos a história completa, pois de alguma maneira lhe devíamos aquele café que em breve estaríamos saboreando.
- Boa!!Xavala! Bué da Fixe! Saca aí um cafézinho...
Mas, de repente, fez-se silêncio....
O cubo....
Estava vazio...
Não havia pacotes de açúcar!!
Foi a desilusão total.
Cabeça de Fósforo viu-se então com a grande oportunidade de usar a sua embalagem de ColaCao.
- É assim. Eu tenho aqui açúcar e não sei quê...
Seguiu-se uma salva de palmas e começou a formar-se uma pequena fila na direcção da máquina.
Eu fingi atrasar-me e fiquei em último. Esperava ansiosa o que estaria para acontecer.
Esperei...
Veio a primeira...
Tirou o café, colocou o açúcar, mexeu, soprou para dentro do copo e bebeu...
- PPPFFFFRRRRR!!!! – Cuspiu o café sujando uma “armazenada” que estava à frente.
- Fosga-se!!!!
- Qué?! Qué que foi minha?!
- Este café é uma merda!!!
- Olha lá, estás a ser parva tábem? Este café foi o meu Isidrinho que trouxe, é do melhor... – choramingou Sapo Atropelado
- Então prova!
A confusão estava instalada...
A “armazenada” que tinha sido atingida pelo café cuspido, estava aos gritos, dizendo que lhe tinham estragado as calças, outras gritavam que queriam provar o café e, atropelando-se umas às outras, discutiam enquanto Sapo Atropelado murmurava nomes carinhosos ao seu Isidrinho.
Todos questionavam a qualidade do café e chegaram mesmo a dizer que este sabia a sal, mas ninguém se lembrara que o defeito poderia vir do açúcar.
Até que Cabeça de Fósforo se acendeu e disse:
- É assim, vou provar o açúcar e não sei quê.
Meteu um dedo dentro da embalagem de ColaCao, e, no suspense da situação, provou.
- É assim, o açúcar está bom e não sei quê. É assim: Sabe a açúcar.
Fiquei surpresa, mas nada disse... Talvez não tivesse apanhado um bocado com sal...
- Mas o café é bom... – insistia Sapo Atropelado.
A confusão durou quase toda a manhã.
Quase à hora de almoço Cabeça de Fósforo encerrou a questão:
- É assim, o café está bom, o açúcar também e não sei quê, por isso, é assim, aquele açúcar deve fazer alguma reacção química com o café que faz com este fique salgado e não sei quê.
Como pareceram mais ou menos todos satisfeitos com a explicação. O assunto morreu ali.
Morreu?
Não.
No dia seguinte o cubo dos pacotes de açúcar ainda viria a dar que falar.
Na manhã de sexta-feira, vieram trazer pacotes de açúcar e encheram o cubo.
Finalmente pode beber-se café decente.
Andava tudo mais bem disposto.
Mas...Depois do almoço, o cubo estava de novo vazio...
Alguém roubara os pacotes de açúcar!
De novo instalou-se a confusão.
Cabeça de Fósforo chamou os seguranças...Andou empenhada para que se instalassem câmaras de vídeo vigilância, para que se pudesse descobrir o ladrão de pacotes de açúcar.
Ao fim da tarde vieram de novo encher o cubo.
Passou-se o fim-de-semana.
Segunda-feira de manhã o cubo estava de novo vazio!
Pelo menos, pensei, nós as “armazenadas” estávamos ilibadas.
Pensei mal...
A meio da manhã Cabeça de Fósforo anunciou:
- É assim, a partir de agora quem quiser um pacote de açúcar e não sei quê tem que me pedir. E fechou os pacotes de açúcar à chave na mesma gaveta onde ainda está a lanterna de emergência (ver o episódio do simulacro de incêndio)!
Assim foi.
Mas como no Armazém 6 ainda somos uns 12, Cabeça de Fósforo passou a manhã de hoje a levantar-se para abrir a gaveta.
- Olha - dizia sempre alguém um pouco tímido – podes dar-me um pacote de açúcar? É que queria beber um café...Cabeça de Fósforo atirava com o pacote e dizia:
- É assim, toma lá...
Passados dez minutos ia outro e outro e outro...Um corrupio...
Então, Cabeça de Fósforo arranjou uma solução:
De meia em meia hora, levanta-se, arrasta os pés até à copa e espreita pela porta na direcção do cubo. Se o cubo está vazio, volta para trás, abre a gaveta, retira 5 pacotes de açúcar, regressa à copa, coloca os pacotes no cubo e volta ao seu lugar.
Se o cubo ainda tem um ou dois pacotes, volta atrás e espera que este esteja vazio (sempre controlando pelo canto do olho quem é que bebe café) para repetir o processo atrás descrito.
Não me parece que o sal no açúcar esteja relacionado com o desaparecimento dos pacotes, mas bem que podia a Cabeça de Fósforo ter fechado a embalagem de ColaCao na gaveta e ter decido enchê-la “controladamente”. É uma questão de segurança, de quem tem o poder do “posto a que já cheguei”Convenhamos...
Sexta-feira, 11 de Abril de 2008
Há excepções
No Armazém 6, a maior parte dos computadores não funcionava.
Em dez computadores só dois estavam em condições operacionais.
Cabeça de Fósforo dirigiu-se a mim e perguntou:
- É assim: Quais é que são os computadores que funcionam?
- Não funciona nenhum excepto aqueles dois - respondi apontando para os ditos.
- É assim: Eu perguntei quais é que funcionavam - exclamou com ar de "nunca respondem áquilo que pergunto"
Então eu, pacientemente, disse:
- É assim: Este funciona, este funciona, este não funciona, este não funciona, este não funciona, este não funciona, este não funciona, este não funciona, este não funciona, este não funciona.
-É assim. Vou telefonar a ver o que se passa - E retirou-se.
Excepções à parte, dei por mim a dizer "É assim"...
Sábado, 5 de Abril de 2008
Uma questão de status
Ao lado do Armazém 6 existe um outro armazém que é o Armazém 7.
Neste, estão armazenados os mais variados materiais eléctricos, antenas, fios, cabos e interminávéis caixas que nunca descobri o que contêm.
É um armazém enorme onde se perdem de vista as prateleiras metálicas empoeiradas.
Aqui trabalha o Torto, que na realidade apenas tem a função de lá estar, nada mais.
Oito horas por dia ganhando o salário mínimo nacional.
Mas o Torto tem algo que todas as "armazenadas" invejam:
O acesso à internet, sem restrições!
O computador no Armazém 7 está situado numa pequena sala de 3 metros quadrados onde mal cabem três pessoas.
O Torto é um gajo porreiro e deixa as "armazenadas" lá irem à hora de almoço.
Mas nem todas as "armazenadas".
Nunca percebi qual o critério, mas julgo que sejam aquelas que conseguem ser mais convincentes quando o chamam de "Direito".
À hora de almoço, algumas engolem o conteúdo dos seus tupperwares vertiginosamente, mastigando e gritando:
"Rápido... Vamos ao Torto!"
Por vezes, dentro da hora de expediente, vê-se um movimento suspeito de entrada e saída:
- Foram ao Torto...
Regressam apressadas, com risinhos e muito bem dispostas.
Mal entram no Armazém 6, rapidamente readquirem uma postura séria e profissional.
"Não, ninguém sabe nem desconfia o que fomos fazer"
As Eleitas, que têm direito a ir ao Torto, recusam-se a partilhar o seu segredo.
Até porque a pequena sala não comporta muitos...
É o Lobby do Torto.
No entanto, são já demasiadas, porque aquela sala fica literalmente apinhada, com várias "armazenadas" que se atropelam para um lugar onde se consiga ver o monitor. Gritam e discutem energicamente:
"Agora é a minha vez!!!"
"Nem penses!!! Eu cheguei primeiro e tu ontem já cá estavas quando eu cheguei!! Vá minha! Baza daqui!".
É um verdadeiro pandemónio em 3 metros quadrados.
O Torto assiste paciente, é um gajo porreiro.
Mas de uma maneira ou de outra lá conseguem organizar-se sem grandes ressentimentos.
Para alguém que chegue de novo ao Armazém 6, tudo isto parece ter um toque misterioso.
Afinal de contas, quem está de fora, o que vê é uma pressa enorme em ir ao armazém do lado, a ida preocupada, o regresso sorridente e, à hora de almoço, uma ou outra "armazenda" de trombas.
Pensará : "Mas que irão lá fazer? E quem é aquele Torto? O que faz? O que existe no Armazém7?"
Não é fácil gerir a confusão que isto pode causar.
A ida ao Torto é, de algum modo, uma questão que incomoda a quem não sabe o que lá existe.
A única solução é ter esperança que um dia alguém nos convide:
"Vou ao Torto, queres vir?"
De vez em quando isso acontece e é por isso que a lotação está à beira do esgotamento.
Um convite para uma ida ao Torto é portanto uma oportunidade de arranjar novos amigos.
Um convite para uma ida ao Torto é um elogio ao ego.
Um convite para uma ida ao Torto é, afinal, uma boa oportunidade de ver e rever todos os mails "forward" que o Torto recebe dos amigos dele.
Um convite para uma ida ao Torto é um evento cultural, onde todos se divertem com as anedotas diárias.
Um convite para uma ida ao Torto é um salto no status no Armazém 6.
Sexta-feira, 4 de Abril de 2008
O homem do Smart
No Armazém 6, são utilizados muitos computadores.
Na realidade apenas o teclado numérico é utilizado e a aplicação onde trabalhamos que é da autoria de Patrão Bigodes.
Muitas vezes, os computadores, que são velhos e pouco actualizados, precisam da assistência técnica de alguém competente para o fazer.
Esse alguém é o Louro...
O Louro...
Ai o Louro...
O Louro Aparece quando menos se espera. Apenas Cabeça de Fósforo o pode chamar e não antes de ela própria ter verificado o funcionamento do pc em questão. Coça a cabeça e diz:
"É assim, faz o restart. E depois é assim, se não der logo se vê..."
Cabeça de Fósforo insiste em achar que todos os problemas se podem resolver com um simples "restart" do computador. Chegou uma vez a dizer:
"É assim, faz o restart. É assim, se não der faz-se o restart amanhã e depois é assim, se não der logo se vê..."
Mas, o restart não resolve os problemas e ela chama o Louro.
Não avisa a ninguém que o fez e, portanto, ele pode chegar a qualquer momento.
Chega num automóvel Smart azul, baixinho e aerodinâmico, com grande alarido e chiar de pneus aí vem ele.
Entra pela porta do Armazém 6, caminha segurissímo de si, com a chave do Smart pendurada ao pescoço, numa daquelas fitinhas que se usam. Avança de peito inchado, cabeça levantada, dirige-se a Cabeça de Fósforo e nem diz " Boa Tarde".
O Louro é também porteiro numa discoteca da moda em Lisboa, pratica frenéticamente os músculos suando nos caros ginásios da capital e presume que as "armazenadas" se embeiçam por ele, chegando estas ao ponto de apagar programas do computador para poderem ter esperança que um dia destes o Louro entrará pela porta adentro, com a chave do Smart balouçando no seu peito musculado.
Não se engana muito.
Houve em tempos uma "armazenada" que ficou apaixonada por ele.
Nunca lhe tinha falado nem o Louro alguma vez tinha reparado nela, até porque essa "armazenada" era um pouco gordinha, mas muito simpática.
Quando o Louro se sentava à frente do computador, ela simulava idas à casa-de-banho ou à copa apenas para poder passar por perto e "snifar" um pouco do seu perfume intenso. Ficava nas nuvens. Corava muito e fugia a correr no meio de risinhos incontrolavéis.
Certo dia, Cabeça de Fósforo não estava e a "armazenada" resolveu tomar uma atitude.
Foi às gavetas de Cabeça de Fósforo, e consegui descobrir o número de telemóvel do Louro.
Durante o resto do dia, andava desorientada com o telefone na mão e dizia: "telefono ou não? telefono ou não? telefono ou não?"
No dia seguinte resolveu mandar uma sms ao Louro que dizia: "Smart azul?"
A resposta foi: "Sim, é lindo não é? mas quem és tu?"
"Não tão lindo como tu..." atreveu-se a responder
Não trabalhava, e não sacava um único agrafo enquanto ele não lhe respondesse, pois as mãos estavam apenas ocupadas com uma única coisa: o telefone.
O Louro ia sustentando a conversa que lhe enchia o ego, e falavam da potência do carro e da bela compleição física daquele, obtida à custa de muitos esteróides .
Mas um dia o Louro lá se deve ter fartado de não saber com quem estava a falar e aos poucos, foi espaçando cada vez mais as mensagens. Ele queria saber com quem estava a falar, e ameaçava acabar com a conversa enquanto não soubesse.
A "armazenada" estava em pânico. O que fazer?
"Não posso perdê-lo"
"Vou ter que lhe dizer quem sou, quero marcar um encontro com ele"
"Se calhar vou à discoteca onde trabalha, como quem não quer a coisa..."
A "armazenada" andava confusa e desorientada.
Era preciso resolver o problema.
Então ficou acordado entre eles que ele iria jantar com ela no dia em que ela lhe dissesse quem era.
A "armazenada" encheu-se mesmo de coragem e mandou a seguinte sms:
"Armazém 6"
O louro respondeu então que passaria por lá às 18:00 h para a ir buscar.
A "armazenada" nesse dia passou todo o tempo na casa-de-banho...
À hora combinada, o Louro telefonou a perguntar qual das "armazenadas" ela era.
A "armazenada" respondeu: "Sou aquela loura um pouco gordinha, então e já aí estás fora à minha espera?"
Mas o pior foi quando o Louro disse:
"Foda-se!!!! Não xavala!!! É pá desculpa lá mas eu pensava que eras aquela magrinha de cabelo comprido, olha minha: Caga nisso, ok?" e desligou.
A "armazenada" ficou arrasada, chorou e disse que se ia despedir, nunca mais poderia olhar para a cara daquele louro que andava de Smart azul.
Enquanto o resto das "armazenadas" em bom companheirismo feminino, tentavam consolá-la, dizendo que ele não a merecia que era um porco etc... O telefone voltou a tocar.
Era ele de novo.
"Eh pá desculpa lá, mas não tens o telefone da tua amiga daí? aquela magrinha de cabelo comprido?"
A "armazenada" desligou o telefone.
A magrinha de cabelo comprido era Surucucu.
A "armazenada" ao fim de 2 semanas abandonou o Armazém 6 e nunca mais a vi.
Terça-feira, 1 de Abril de 2008
Personagens - Surucucu
Surucucu é das personagens mais versáteis do Armazém 6.
É capaz de, com uma extraordinária perícia, sacar agrafos, contar folhas e passar folhas ao mesmo tempo. Frenética e motivada fá-lo apenas para impressionar Idália.
No entanto, com essa mesma perícia é também capaz de mudar de opinião com a mesma velocidade com que saca um agrafo.
Vive obcecada com o ordenado dos outros.
Todos os meses, o patrão bigodes, vem cheio de pressa, distribuir os cheques de cada um.
É sempre um dia excitante onde há sempre discussão. Ou melhor, não há discussão, porque no Armazém 6 todos têm o hábito de nunca falar com a pessoa correcta, fala-se sempre com aquele que pode estar de acordo com as críticas.
Em 6 anos de Armazém 6, foram poucas as discussões cara-a-cara a que assisti.
Surucucu é mestra nisso.
Nunca discute com ninguém (à excepção de uma vez com um certo Senhor, que viria depois dessa discussão a ser apelidado de Dr. da Merda), mas consegue pôr todos a amar alguns, alguns a odiar todos, todos a odiar todos, alguns a amar alguns mas nunca todos a amar todos.
Surucucu vive apaixonada por Bolotas, um outro "armazenado" que raramente está presente, o que dá azo a muito falatório. Desde há algum tempo conseguiu os seus intentos e vive uma relação apaixonada com Bolotas, apesar de estar convencida de que ninguém ainda o constatou.
Surucucu é aquilo a que se pode chamar de uma "Boazona".
Bolotas é um marialva que apenas viu nela uma oportunidade de passar "bons momentos".
Certo dia, dia de pagamento, o patrão Bigodes veio com a sua pressa distribuir os devidos salários.
No dia seguinte Surucucu apareceu no Armazém 6, chorosa de olhos vermelhos e tristonha, dizendo que tinha perdido todo o dinheiro (que entretanto tinha levantado em numerário) no supermercado Jumbo. Inexplicavelmente, tinha deixado o porta-moedas em cima do balcão e num momento de distracção, quando se tinha virado para chamar a atenção de seu filho, o porta-moedas cheio de notas tinha desaparecido.
A história era comovente: "Mas ca ganda galo xavala!", "É assim, tu deves agora é tentar encontrar o dinheiro. É assim, se alguém honesto encontrou o teu porta-moedas, é assim ha-des de tê-lo de volta. É assim não te preocupes, tudo se há-de resolver. É assim, afinal tu puzéstezío aonde?", dizia Cabeça de Fósforo tentando consolar Surucucu que chorava e chorava e chorava enquanto tentava mais uma vez explicar o que tinha acontecido.
Mas o dinheiro não apareceu...
Surucucu teve de tomar uma decisão.
Telefonou chorosa ao patrão Bigodes explicou-lhe o que tinha acontecido e suplicou-lhe que lhe desse outro salário, que ela no fim do outro mês lhe pagaria em prestações e aos poucos.
O patrão Bigodes mostrou-se sensível e receptivo. Disse que ia ponderar.
O dinheiro na realidade não se perdeu no Jumbo. Bolotas na discoteca, enquanto dançava estonteado pelo álcool, agarrou no salário, comprou uma prenda a Surucucu, levou-a a passar a noite num hotel de luxo em Lisboa e "perdeu" o resto.
Na semana seguinte patrão Bigodes regojizou-se com o direito que teve a um beijo agradecido de Surucucu ao levar-lhe um segundo salário...
sinto-me: 
Enganada